É crucial que os jovens se envolvam ativamente no processo democrático e que passem da teoria à prática, informando-se sobre as propostas dos partidos e exercendo o seu direito ao voto para, consequentemente, se envolverem nos centros de decisão, influenciado e desafiando, a seu modo, o status quo. Ao fazerem isso, podem pressionar os políticos a abordarem de forma séria e eficaz as questões que afetam diretamente as suas vidas
POR SALVADOR MATHIAS
O Next Summit realizou-se no dia 3 de Fevereiro de 2024, em Lisboa, e teve como objetivo aprofundar as principais mensagens que o Papa Francisco nos deixou durante as JMJ e passar da teoria à prática. Assim, como as JMJ inspiraram a juventude em Lisboa, o “Next Summit” inspirou para a ação e transformação da esfera empresarial. Para passarem da teoria à prática, os jovens profissionais católicos de várias áreas profissionais distribuíram-se em grupos, com temas transversais ao “eu”, ao “outro” e à sociedade.
Este evento revestiu-se de especial importância, dado que no próximo dia 10 de março terão lugar eleições legislativas da maior importância para o futuro de Portugal, nomeadamente para os jovens – é sobre eles que o impacto é maior (no longo-prazo) e é também sobre eles que tem havido pouca preocupação nos programas eleitorais, levando, indubitavelmente, a mais abstenção nesta faixa etária.
As eleições em Portugal são inequivocamente momentos cruciais na vida política do país, moldando não apenas o seu futuro imediato, mas também refletindo as aspirações e desafios da sociedade. No entanto, para os jovens portugueses, o significado das próximas eleições vai além do mero processo democrático; elas representam uma oportunidade vital para enfrentar problemas que historicamente foram negligenciados pelos partidos políticos. Como foi (e bem) referido no comunicado de tomada de posição da ACEGE, estas eleições têm “lugar num quadro de falta de esperança coletiva no futuro, bem visível nos estudos de opinião, e, mais objetivamente, na crise das instituições e no crescimento da emigração, especialmente dos jovens (30% dos jovens entre os 15 e 39 anos emigram, 25% dos filhos de portugueses nascem no estrangeiro ).”
Ao longo da história política de Portugal, tem sido evidente que os partidos se afastaram frequentemente das questões que afetam diretamente a juventude. Seja na falta de empregos estáveis, na precariedade laboral, no acesso à habitação ou no custo exorbitante da educação superior, os jovens muitas vezes sentiram que as suas preocupações foram relegadas para segundo plano. Os partidos políticos tradicionais, muitas vezes, falharam em abordar essas questões de forma eficaz. Em vez disso, priorizaram agendas que não refletem as necessidades da juventude portuguesa. Este distanciamento entre os partidos e os jovens criou um fosso de desconfiança e apatia política, resultando em baixas taxas de participação eleitoral entre os jovens.
Assim, o NEXT Summit tentou enquadrar estes pontos nas discussões e abordar, revestidos de esperança, algumas temáticas que poderão fazer sentido para a próxima legislatura:
Ser Empreendedor de Sonhos – o Eu
Se colocássemos um cenário utópico de um mundo onde o dinheiro não existe, ao colocarmos a questão “O que gostarias de ser?”, muitas são as pessoas que não saberiam responder.
Ação Social: O voluntariado deveria ter um papel muito mais ativo nas escolas e nas empresas. Os alunos devem aprofundar o conhecimento de diferentes formas práticas, não só pela exposição teórica dos temas como também pela prática do voluntariado.
Sistema Educativo: Acreditamos que o sistema de orientação vocacional, tal como está implementado, não funciona. A realização de testes psicotécnicos é muitas vezes enviesada e a conclusão dos mesmos não acrescenta valor relevante. Ao invés, deve realizar-se um acompanhamento personalizado a cada aluno, evitando limitações e desafiando preconceitos.
Compromisso Social: Ao nível das organizações, há ainda muito caminho a percorrer no que diz respeito ao acompanhamento dos seus colaboradores. Algumas práticas devem ser reafirmadas pelo compromisso – em primeiro lugar, com os seus colaboradores, pagando-lhes a tempo e horas, mas também com a sociedade em que se inserem fomentando atividades de desenvolvimento social, reforçando o team building pela prática de voluntariado.
Formação e Feedback: Para além disso, as organizações devem fomentar o crescimento pessoal e a auto-descoberta através de uma contínua aposta na formação dos seus colaboradores. Outra prática cada vez mais comum, mas ainda não totalmente sedimentada é a cultura de feedback como ferramenta de amadurecimento e melhoria progressiva.
Intervenção Estatal: Por último, o estado deve ter um papel ativo no desenvolvimento das vocações profissionais. Identificámos duas principais lacunas nesta falta de apoio estatal: por um lado o estado deve estimular o sonho, apoiando as áreas mais vulneráveis como é o caso das artes e do desporto. Por outro, deve, primordialmente, cuidar das suas pessoas dando-lhes possibilidade de concretização da progressão de carreira, como é o caso dos médicos.
Ser Empreendedor do Outro
Num mundo onde as conexões muitas vezes parecem frágeis ou distantes, é vital reconhecer e implementar medidas que fortaleçam laços entre as pessoas e promovam uma cultura de cuidado mútuo, especialmente no ambiente de trabalho. Nesse sentido, no plano das ações, devemos garantir que a importância de cuidarmos uns dos outros seja reconhecida e cultivada.
Em primeiro lugar, conectar gerações é essencial para construir uma sociedade coesa e resiliente. Isto significa valorizar a sabedoria e a experiência dos mais velhos, enquanto também abrimos espaço para a energia e a perspetiva inovadora dos mais jovens. Ao promover a interação e o diálogo entre diferentes faixas etárias, podemos aprender uns com os outros e construir relações mais fortes e inclusivas. Foi também este ponto que a ACEGE Next tem tentado reforçar, dando ênfase ao tema da intergeracionalidade na sua proposta de valor.
Por outro lado, celebrar as diferenças pela diversidade é outro aspeto crucial do cuidado mútuo. Reconhecer e apreciar a variedade de culturas, sexo e experiências enriquece-nos e torna-nos mais empáticos e compassivos.
Em casos de pobreza no trabalho, como é o caso de desemprego ou transição de carreira, as empresas, organizações e o Estado devem definir um plano de recolocação e formação contínua no mercado de trabalho, criando pontes entre empresas e sectores, dando vida e dinâmica aos mais velhos, reforçando os dois pontos anteriores: intergeracionalidade e diversidade.
Assumirmos as nossas crenças como cristão no local de trabalho, ou seja, a autenticidade, é um passo essencial para que consigamos inspirar e influenciar positivamente aqueles que estão à nossa volta, criando um ambiente de trabalho mais colaborativo e harmonioso e garantindo a nossa unidade de vida. Só assim conseguiremos ser agentes ativos de mudança, assumindo a responsabilidade pessoal de promover o bem-estar e a justiça no local de trabalho em que nos inserimos.
Assim, as empresas devem continuar a alinhar o lucro com o bem comum, assumindo desta forma que o sucesso económico não pode emergir à custa do bem-estar das pessoas ou do planeta. Empresas e organizações que priorizam o impacto social e ambiental enquanto procuram um crescimento financeiro, demonstram não só um compromisso real com o cuidar da Casa Comum como uma preocupação com a sustentabilidade a longo prazo.
Ser Empreendedor do Futuro e de Um Mundo Melhor
Ser empreendedor do futuro é abraçar a sustentabilidade como um compromisso inegociável. A sustentabilidade não é apenas uma escolha, mas uma obrigação moral e estratégica e, por isso, podemos defini-la como o caminho de preparação para o futuro com responsabilidade.
Em primeiro lugar, para entender a sustentabilidade é necessário compreender que as nossas ações de hoje impactam o amanhã, e por isso este compromisso de responsabilidade não pode ser apenas ambiental, mas deve ser também social e económico. O ESG já é uma realidade implementada na sociedade e avalia o trabalho das organizações em prol de objetivos sociais que vão além da função de maximizar os lucros. Ser empreendedor de um mundo melhor é preparar terreno para as gerações futuras, e isso requer uma abordagem holística, onde cada ação é pensada não apenas pelos lucros imediatos, mas pelos impactos a longo prazo.
Este compromisso é de todos, sem exceção. O que implica que todos temos uma palavra a dizer e devemos ser escutados. Do mesmo modo que todos temos o dever de ser agentes ativos de mudança, liderando pelo exemplo e a inspirar outros a seguirem o mesmo caminho. De tal modo que sejamos capazes de influenciar políticas, moldar comportamentos e catalisar transformações significativas.
Para que tal seja possível, cada um deve fazer o exercício pessoal de perceber se os seus valores estão alinhados com as empresas onde trabalham ou querem trabalhar – alinhar a nossa atividade profissional com as nossas crenças e princípios – rejeitando quaisquer comportamentos que violem os nossos valores, e potenciar práticas que promovam o bem-estar coletivo e a justiça social. Adicionalmente, uma das sugestões baseia-se em ter, cada vez mais, programas de voluntariado alinhados com a missão e propósito da empresa, evitando o dissociar da vivência do dia-a-dia com um momento isolado
Por fim, acreditamos que a criação de microorganismos nas empresas representa uma nova forma de organização empresarial, baseada na descentralização, na diversidade, na agilidade e na colaboração, como ferramentas essenciais para impulsionar a inovação e a resiliência de um mundo em constante transformação. Temos vários (bons) exemplos da inserção de comités jovens, com conselhos de administração “sombra”
Terminamos com um sentimento de esperança no futuro, apesar de todas as contrariedades, com a certeza de que os jovens estão cada vez mais (bem) informados e com uma vontade de mudar o panorama. Este dia reforçou-nos essa garantia.
É, sem dúvida, crucial que os jovens se envolvam ativamente no processo democrático e que passem da teoria à prática, informando-se sobre as propostas dos partidos e exercendo o seu direito ao voto para, consequentemente, se envolverem nos centros de decisão, influenciado e desafiando, a seu modo, o status quo. Ao fazerem isso, podem pressionar os políticos a abordarem de forma séria e eficaz as questões que afetam diretamente as suas vidas.
Em suma, as próximas eleições em Portugal têm uma importância vital para os jovens do país. É uma oportunidade para quebrar o ciclo de negligência política e garantir que as suas preocupações sejam ouvidas e atendidas. O futuro de Portugal depende da participação ativa e consciente da sua juventude nas urnas.
Salvador Mathias
33 anos, casado e pai de 2 filhas. Licenciado em Gestão na CLSBE e Mestre em Marketing e Estratégia na CLSBE e BI Norwegian SBE. Atualmente trabalha na Makro como National Account Manager e tem especial interesse por assuntos relacionados com gestão, empreendedorismo e inovação. É o responsável nacional da ACEGE NEXT.