O Natal chegou, e, como habitualmente, não chegou sozinho. Traz a sua avalanche de tentações. É dezembro, o mês em que o nosso peso ideal pode ser mais flexível do que as promessas de dieta para o Ano Novo. E aquelas refeições épicas em família? Peru, bacalhau, doces que parecem obras de arte, marisco e todas as tentações. No meio de tudo, surge a pergunta: como sobreviver ao Natal sem transformar o corpo numa obra de arte estragada pela culinária? O país e o mundo atravessam uma epidemia da gula enquanto tentamos, sem sucesso, resistir ao cheiro dos assados ou à tentadora promessa de mais uma fatia de bolo de Natal. A solução pode não ser tão doce como um chocolate quente cheio de chantilly, mas chega uma novidade que promete dar um berro de ordem nesta guerra constante: tirzepatida. Será milagre de Natal?
POR PEDRO COTRIM

Ah, dezembro! O mês das luzes a brilhar, das árvores repletas de bolas e das tentadoras travessas de doces e de peru assado que nos parecem chamar pelo nome. No meio das Festas, continua a decorrer a epidemia da obesidade, uma das maiores crises de saúde pública que coincide com a nossa paixão por comida festiva. E como resistir? O Natal é a desculpa perfeita para saborear todos aqueles pratos que durante o ano nos fazem sentir culpados, mas, no fundo, comer bem é um grande prazer. Só que também é um grande problema crescente.

A obesidade não é apenas uma preocupação estética, é um vírus da sociedade moderna. E não se trata de um vírus invisível, que se transmite de pessoa para pessoa sem que ninguém perceba. Como qualquer epidemia, a obesidade está a crescer em todas as faixas etárias, em todas as classes sociais e sem discriminação. E com ela chegam problemas seríssimos: diabetes tipo 2, doenças cardíacas, hipertensão e até certos tipos de cancro. A obesidade é a maior porta de entrada para estas doenças crónicas. Mais de 2,8 mil milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela obesidade. A sociedade está literalmente a «inchar» e ninguém parece conseguir parar o fluxo.

De Como a Comida Conquistou as Nossas Vidas

Chegamos a este ponto não por acaso, mas sim por uma série de escolhas (melhor, talvez falta delas). A nossa relação com a comida deixou de ser apenas uma questão de nutrição. Agora alimentamo-nos como se a comida fosse um consolo, uma recompensa ou uma forma de nos distrair. Bem-vindos à era do «fast food», onde comer em casa é sinónimo de «não ter tempo» e comer fora é mais prático do que preparar algo saudável. E por que não? Afinal, quem resiste ao toque crocante das batatas fritas ou à promessa de um hambúrguer suculento preparado em 10 minutos? O problema é que a fast food se tornou um vício.

Estudos recentes indicam que o consumo de alimentos ultraprocessados está diretamente relacionado com o aumento da obesidade. Estes alimentos não são feitos para nutrir, mas para viciar. Combinam ingredientes como açúcar, gordura e sal de forma a maximizar os sabores e a ativar o sistema de recompensa do cérebro, um órgão viciado em prazer, e estes alimentos sabem exatamente como o enganar. E quando se combina este tipo de comportamento alimentar com o sedentarismo (porque, com todo o rigor, quem tem tempo ou energia para exercícios depois de um dia repleto de trabalho e stress?), temos a receita para o desastre: mais calorias consumidas do que queimadas e um corpo que vai, inevitavelmente, acumular gordura.

A realidade é que os maus hábitos alimentares estão agora profundamente enraizados na cultura. As crianças crescem com os seus heróis nos anúncios de refrigerante e comida açucarada. E a comida saudável? É a opção «chata» e «sem graça», a que ninguém quer. O que antes eram exceções, como pizza ou batatas fritas ao jantar, virou a regra. Em 2020, o gasto anual com comida ultraprocessada foi estimado em muitos biliões de dólares a nível global, refletindo a nossa obsessão pela conveniência e pelo prazer instantâneo. E ao ponto de negligenciarmos o que está realmente no nosso prato.

Tirzepatida: A Esperança Que Pode Ser (Um Pouco) Tentadora

Entre as várias tentativas de combater a obesidade, uma droga emergente parece destacar-se: a tirzepatida, e não é apenas a solução milagrosa para o Natal. O medicamento chegou ao mercado com a promessa de revolucionar o tratamento da doença. Mas, e com toda a franqueza, estamos sempre à procura de um truque que nos permita comer o que quisermos e ainda perder peso, mas infelizmente não é tão simples assim.

A tirzepatida é uma terapia de ação dupla que imita duas hormonas: o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e o GIP (peptídeo inibidor gástrico). Estas hormonas têm o poder de controlar a saciedade, reduzir o apetite e melhorar o metabolismo. A sua combinação faz com que a tirzepatida seja mais eficaz que outras alternativas já disponíveis, como o semaglutido, também usado para tratar a obesidade. Esta nova droga pode ajudar a perder 20% do peso corporal em alguns pacientes, um número que deixa a indústria farmacêutica bastante surpreendida. E há também os efeitos no controlo do açúcar no sangue, o que faz da tirzepatida uma espécie de «dois em um» no combate à obesidade e à diabetes tipo 2​.

Mas antes que comecemos a sonhar com uma solução mágica para todas as indiscrições alimentares, vale a pena lembrar que, como qualquer medicamento, a tirzepatida tem os seus efeitos colaterais. Náuseas, diarreia e até problemas na vesícula biliar são alguns dos custos possíveis. E sim, a tirzepatida funciona, mas deve ser vista como uma ferramenta dentro de um arsenal muito maior, não substituindo a mudança de estilo de vida que todos sabemos necessária para que a perda de peso seja duradoura e saudável.

O Natal, a Obesidade e a Busca por Equilíbrio

Agora, um grande dilema. Como lidar com a obesidade quando o Natal bate à porta? Como resistir às tentações e aos excessos típicos da época? A resposta não é simples, mas se há uma coisa que podemos aprender com a medicina moderna e os novos tratamentos como a tirzepatida, é que não precisamos viver num mundo de abstinência total. A chave, como habitualmente, está no equilíbrio.

Sim, o Natal é um momento para celebrar, para comer e para nos reunirmos com família e amigos, mas também pode ser uma oportunidade de repensar os nossos hábitos alimentares e de dar o primeiro passo em direção a mudanças sustentáveis. A tirzepatida pode ser uma ajuda importante, mas o verdadeiro presente de Natal pode ser aprender a relacionar-nos de forma saudável com a comida, sem cair na armadilha de consumir por impulso ou por prazer momentâneo. Afinal, o Natal é união, alegria e equilíbrio, e não em excessos nesfastos.

De Olho no Futuro (E na Balança)

Não há dúvidas de que a obesidade é uma das maiores ameaças à saúde pública do século XXI e que tratamentos como a tirzepatida têm o potencial de ajudar muitas pessoas, mas também é necessário entender que a cura não virá apenas de uma pílula ou injeção. A verdadeira solução está na mudança de mentalidade: na maneira como nos alimentamos, nos exercemos e cuidamos do nosso corpo. O que comemos durante o Natal pode ser delicioso, mas também deve ser um lembrete de que, para uma vida saudável, o equilíbrio é essencial.

O futuro da luta contra a obesidade não será moldado por dietas malucas ou por remédios milagrosos. Será baseado em educação, escolhas conscientes e um pouco de ajuda da ciência (como a tirzepatida). Apenas assim conseguiremos criar um mundo onde a obesidade deixe de ser uma epidemia e se torne uma história do passado, assim como o último pedaço de bolo de Natal.

Imagem: Ian Talmacs/Unsplash.com

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