“Uma sociedade com empreendedorismo é uma sociedade mais livre, que permite a possibilidade de qualquer um prosseguir os seus sonhos”. Em entrevista, o presidente da Associação Acredita Portugal, que promove os maiores concursos de empreendedorismo do país, defende que “com iniciativa se encontram soluções e com confiança se ganha espírito de iniciativa”. O resultado é uma rede viral de conhecimento
POR GABRIELA COSTA

Os concursos da Associação Acredita Portugal – BES Realize o Seu Sonho e INOVPortugal – receberam um número recorde de 6500 inscrições, de concorrentes de Norte a Sul do País. Com a missão de fomentar “uma cultura da possibilidade para libertar o potencial empreendedor dos portugueses”, e numa altura em que o país atravessa uma profunda recessão económica, o projecto, cuja Cerimónia de Entrega de Prémios teve lugar a 30 de Maio, no Centro de Congressos de Lisboa, tem impactos na capacitação para o empreendedorismo, na geração de emprego e, como explica em entrevista José Miguel Queimado, presidente da Associação Acredita Portugal, no encontro de caminhos alternativos, a partir “do reforço da auto-estima, num contexto castrante e restritivo”.

O Concurso BES Realize o Seu Sonho tem como objectivo possibilitar que qualquer pessoa, independentemente da sua idade, nível de formação ou ideia, possa implementar o seu projecto empreendedor. É constituído por duas categorias de prémios, o ‘Start-Now’ (apoio a projectos com âmbito comercial) e o ‘Empreendedorismo Social’ (apoio a projectos sem fins lucrativos). Já na sua 3ª edição, a iniciativa contou com mais de 4500 inscrições, requalificando-se como o maior concurso de empreendedorismo em Portugal.

Por seu turno, o Concurso InovPortugal, lançado este ano, contou com mais de 1500 inscrições de ideias de negócio. Ambicionando tornar-se no maior concurso na área do empreendedorismo em Portugal ligado à inovação, visa gerar negócios com potencial de internacionalização.

Ao VER, o líder da Acredita Portugal, também CEO da Groupon Brasil, explica, a partir de um exemplo real, o valor deste tipo de iniciativas no mercado empresarial: o projecto Style in a Box, segundo classificado na edição passada do Realize o Seu Sonho, está hoje presente nos mercados português e espanhol e com planos de inserção em diversos mercados emergentes, como é o caso do Brasil.

Com apenas 30 anos, José Queimado inclui no seu currículo um percurso com passagens pelo Institut D’etudes Politiques de Paris, onde concluiu o Bacharel em Arts in Economics and International Affairs, e pela Georgetown University Washington, de onde saiu com um Master of Science in Foreign Service (MSFS), com especialização em Finance and Emerging Markets Business. Foi consultor na McKinsey e director e co-fundador do Donghua Group China.

Com experiências nas áreas da inovação e do empreendedorismo social em países como França, Estados Unidos, Brasil, China, Inglaterra e Macau (nos quais já viveu), o fundador da Acredita Portugal percorreu a pé, em 2005, e mais tarde de bicicleta, o país de Norte a Sul. Objectivo? “Perceber quais eram os sonhos dos portugueses”.

© DR
José Miguel Queimado, Presidente da Associação Acredita Portugal

 

Como nasceu a ideia e que balanço faz do percurso da Associação Acredita Portugal, cuja missão é fomentar o potencial empreendedor dos portugueses, apoiando a realização dos seus projectos?
A ideia nasceu em 2008, altura do meu regresso a Portugal. Escolhi o meu país para viver, e cerca de quinze dias antes do meu regresso, surgiu-me a ideia de criar um projecto para reforçar a confiança dos portugueses, sublinhando o seu efeito no desenvolvimento de um país empreendedor. O empreendedorismo é uma experiencia de risco, como tal torna-se essencial este aspecto da confiança, em nós próprios e em quem está à nossa volta. A importância do empreendedorismo encontra-se tanto a nível social como económico. Uma sociedade com empreendedorismo é uma sociedade mais livre, pois é uma sociedade que permite a possibilidade de qualquer um prosseguir os seus sonhos. Para mim, esta é a verdadeira definição de liberdade.

Que relevância atinge os concursos BES Realize o Seu Sonho e INOVPortugal (este na sua 1ª edição), enquanto oportunidade de negócio, no atual contexto de desemprego, crise financeira e instabilidade para as famílias e as PME, que agudiza o desânimo nacional?
A relevância pode-se enquadrar em três aspectos, o pedagógico, o social e o económico. Pedagógico porque a Associação Acredita Portugal pede apenas às pessoas para formularem ideias de negócio. A partir daí acompanhamos o empreendedor em todo o plano de negócio com um conjunto de apoios e formações. Este ano formámos cerca de 18 mil potenciais empreendedores que passaram por este processo. O objectivo não é apenas o de munir essas 18 mil pessoas com os conhecimentos-base de lançamento de uma empresa, mas assegurar que esse conhecimento passe de forma viral aos amigos, primos, irmãos… criando uma rede cada vez mais alargada de pessoas com esses conhecimentos.

Socialmente pretende-se colocar o foco das pessoas na solução. Mostrar que existem caminhos e que se pode reforçar a auto-estima num contexto castrante e restritivo. Em termos económicos estes são os inerentes a uma criação de negócio. Dos 6500 projectos, vários deles irão constituir empresas. Destaco o exemplo do projecto Style in a Box da edição passada, já presente nos mercados português e espanhol e com planos de inserção em diversos mercados emergentes, como por exemplo o Brasil. Este projecto foi constituído por participantes sem qualquer conhecimento prévio na área do empreendedorismo.

Qual é o objectivo do BES Realize o Seu Sonho, e a que ideias de negócio se dirigem as duas categorias a concurso?
Este é um concurso onde o participante pode concorrer com apenas uma ideia negócio e terminar o concurso com um plano de negócio, pronto a ser avaliado por um parceiro ou um investidor, por exemplo. É este o nosso objectivo: qualquer pessoa que participe, independentemente da sua formação, idade e nível de conhecimentos no âmbito do empreendedorismo, termina o concurso, independentemente também do seu resultado com ferramentas que certamente lhe permitirão ir um pouco mais além nos seus projectos.

Os treze projectos finalistas têm excelentes condições de viabilidade e as expectativas são de uma inserção com sucesso nos respectivos mercados .
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Face ao cariz dos projectos, que poderão ser de âmbito social ou empresarial, assim teremos critérios de avaliação diferentes. Na categoria Start-now, para promover projectos mais empresariais. E na de Empreendedorismo Social para promover projectos sociais, sem fins lucrativos.

Como surgiu a oportunidade de lançar a 1ª edição do INOVPortugal e que impacto poderá ter, no actual contexto socioeconómico, este que ambiciona ser  o maior concurso de empreendedorismo em Portugal dedicado a projectos na área da Inovação com potencial de internacionalização?
Bem, com a experiência de edições passadas, percebemos que o concurso BES Realize o Seu Sonho estava a ser tão abrangente que acabava por não dar o devido valor a muitos projectos que, ainda que meritórios, não estavam a ser completados. Para além disso, a crescente captação de projectos com componentes mais tecnológicas ou científicas fez-nos compreender que haveria a necessidade de dividir, ou melhor, avaliar com critérios diferentes, os diferentes âmbitos dos projectos.

Vejamos: uma ideia de um restaurante com determinada particularidade pode ser um excelente projecto, com viabilidade, no entanto ao lado de um projecto na área da biomedicina molecular, com um impacto social significativamente superior, o magnifico Restaurante de Bairro, estaria em desvantagem. Assim surge o INOVPortugal. Com critérios diferentes, mas em tudo semelhante ao BES Realize o Seu Sonho.

Concretamente, como poderão os 2 projectos vencedores aplicar o prémio pecuniário de 150  mil Euros em serviços? Que expectativa tem para os dois projectos vencedores anunciados a 30 de Maio?
Os treze projectos finalistas têm excelentes condições de viabilidade e as expectativas são de uma inserção com sucesso nos respectivos mercados, em especial para os vencedores. Os prémios foram acordados com os nossos parceiros. Englobado nesse valor estão os acordos com 26 dos nossos parceiros que irão disponibilizar os seus serviços. Desde a componente jurídica à comunicação, os prémios não são todos atribuídos “de uma assentada”, mas sim criando um sistema de apoio ao próprio desenvolvimento do projecto, durante vários meses através de uma rede de suporte continuo.

Como avalia os 13 projectos finalistas dos dois concursos, seleccionados entre os 100 melhores? Como decorreu o processo de desenvolvimento do plano de negócio dos projectos, suportado por um software online e por um ciclo de workshops?
Os finalistas desta edição são reflexo de uma filtragem de 6 mil candidaturas. O processo foi elaborado, e chegar aos 100 finalistas foi árduo. Tenho a certeza de que muitos projectos que ficaram pelo caminho, certamente ainda terão muito sucesso. Mas estes foram os critérios que o nosso júri considerou e que seguramente são a elite dos candidatos.

O software permite um acompanhamento dos concorrentes que através de vídeos, tutoriais e ferramentas preconcebidas facilitam o processo de criação do Plano de Negócios. Os workshops contribuem na área da formação, mostrando serviços disponíveis, experiências passadas ou simplesmente informações úteis, disponibilizadas pelos nossos GuestSpeakers. Foram cinco meses bastante dinâmicos que culminam na Cerimónia final de Entrega de Prémios.

Os dois concursos têm grande abrangência nacional e em 2013 registaram um número recorde de candidatos. Como avalia esta participação, no actual contexto? E face às características do povo português, que não tem uma cultura de empreendedorismo como a que existe há décadas nos EUA e no Brasil, por exemplo, mas tem outras competências, como a versatilidade ou a audácia?
Ouve de facto um aumento significativo da iniciativa dos portugueses no âmbito dos concursos da Acredita Portugal. Penso que tal facto revela uma crescente melhoria no reconhecimento, pelos portugueses, da importância do empreendedorismo, de olhar para os problemas numa forma mais construtiva em busca de soluções. Com iniciativa se encontram soluções, e com confiança se ganha espírito de iniciativa.

Sabemos que o caminho ainda é longo, mas o sucesso dos concursos da Acredita Portugal mostra que para lá progredimos. Os portugueses estão habituados a trilhar caminhos, a sonhar e a arranjar soluções inovadoras onde não se pensava existir. O objectivo é dar um sentido prático a essas características para a realização dos seus sonhos.

Gala Acredita Portugal
De uma eliminatória de 100 finalistas a concurso, cujos concorrentes apresentaram presencialmente ao júri a sua ideia de negócio e realizaram um pitch de um minuto, resultaram 13 finalistas:Concurso BES Realize o seu Sonho
Prémio Start Now:
· Recibos Online (tecnologia que permite que os vendedores substituam recibos de papel em recibos digitais)
· Meia Dúzia Kids (utilização de bisnagas para embalar as polpas de fruta e os molhos de legumes saudáveis)
· Cogumelos do Nordeste (produção artesanal de cogumelos medicinais)
· Urban Grow (criação de produtos baseados em sistemas de cultivos hidropônicos direcionados para o cultivo urbano)
· Moli Produções (filmes didáticos e interativos para crianças, em que os protagonistas são as próprias crianças e a mascote Moli)Prémio Empreendedorismo Social:
· My Voicer (dispositivo portátil de conversão de texto impresso em voz)
· Vintage for a cause (clube de costura para mulheres, que transforma roupa usada, em roupa vintage)
· Projeto Táctil (sinalética táctil adequada aos deficientes visuais)Concurso InovPortugal
· Vitalidi (reconhecimento biométrico baseado no sinal eletrocardiográfico)
· Ployster (unidade pioneira de recuperação, desenvolvimento e produção de ostras da espécie Ostrea Eduli)
· Bgentleman (camisas por medida e personalizáveis, disponibilizadas através de loja online)
· Adapteck (serviço que permita em ambiente hospitalar, uma completa avaliação da interface entre o membro amputado e a prótese)
· Bewarket (marketplace de comércio social onde é possível comprar e vender entre amigos, vizinhos e toda a rede do Facebook)

Fonte: Acredita Portugal

Jornalista