A primeira edição da iniciativa lançada pela Fundação Gulbenkian e pela Fundação Talento na diáspora portuguesa já tem vencedor: o projecto Reabilitação a Custo Zero, que visa criar um novo modelo de reabilitação de edifícios degradados a partir do trabalho voluntário de estudantes internacionais de Arquitectura e Engenharia. Em declarações ao VER, José Paixão, um dos mentores da ideia vencedora da FAZ-IOP, explica que a ambição do projecto é “combater o abandono chocante dos centros de muitas cidades portuguesas”, repovoando-os com vista à transformação social
O “Reabilitação a Custo Zero” foi distinguido entre as dez candidaturas que integraram a 2ª fase da iniciativa FAZ – Ideias de Origem Portuguesa. O projecto, lançado por uma equipa de jovens portugueses (José Paixão, que reside na Áustria, onde frequenta uma pós-graduação em Design de Arquitectura experimental; Diogo Coutinho, Engenheiro Civil a residir na zona metropolitana do Porto; e Angélica Carvalho, estudante de Arquitectura na Escola Superior Artística do Porto), vai receber cinquenta mil euros para a implementação desta ideia que visa apoiar senhorios carenciados e camarários a reabilitar o seu património devoluto ou degradado. Na base do projecto está a criação de uma organização sem fins lucrativos que contribua, em adequação com os senhorios, para a reabilitação dos seus edifícios a custo zero. Inicialmente pensado para a cidade do Porto, o projecto pode adaptar-se a todas as cidades com prédios degradados onde os senhorios, por falta de capacidade financeira, não podem recuperar as suas casas. Em declarações ao VER, José Paixão, um dos mentores da ideia vencedora da FAZ-IOP, explica que a grande ambição do projecto é “combater o abandono chocante dos centros de muitas cidades portuguesas”.
Reabilitar com voluntariado Para tal, pretende-se convidar estudantes internacionais de Arquitectura e de Engenharia (em várias áreas) para se voluntariarem a conceber e a realizar reabilitações, utilizando materiais de construção doados por empresas fornecedoras à organização sem fins lucrativos. Estas doações inserem-se no enquadramento legal de mecenato social e por isso acarretam benefícios fiscais para os doadores, garante José Paixão. Prevê-se que a supervisão das obras fique a cargo de cursos da especialidade das universidades locais que ganham estudos de caso práticos para demonstrar aos seus alunos. Uma vez reabilitados, os prédios “vão ser arrendados a habitação social nos pisos superiores e a empresas startup de indústrias criativas nos pisos térreos”. O grande impacto que se espera alcançar com esta iniciativa é ”o repovoamento dos centros urbanos e a dinamização das cidades como máquinas de transformação social”. Segundo o responsável membro da equipa vencedora do FAZ-IOP, “neste momento estamos em negociações com a Câmara Municipal do Porto para a cedência de um prédio devoluto alvo da reabilitação piloto. Só com o resultado visível desta primeira reabilitação se conseguirá provar que o sistema funciona, que a reabilitação é mesmo a custo zero, e que todos ganham com este modelo”. Os trabalhos estão agendados para começar já em Outubro e a reabilitação prevista deverá estar terminada em finais de 2012. A partir daí “será então possível fazer crescer o número de prédios intervencionados e expandir o projecto a outras cidades, como Lisboa e Coimbra”, conclui José Paixão. Quanto à constituição da organização sem fins lucrativos que servirá de base à implementação do projecto, “essa só acontecerá a médio prazo, já que os custos inerentes à manutenção dessa autonomia seriam insustentáveis. Estamos a trabalhar no sentido de integrarmos as estruturas de uma instituição já existente que tenha os estatutos de utilidade pública e que permita conceder benefícios fiscais a donativos”, avança ao VER. Ideias para inovar
O júri escolheu esta ideia “com base no carácter inovador da proposta, que visa um problema negligenciado das nossas comunidades urbanos, pelo elevado potencial de impacto social da solução que se pretende implementar e pelo modelo sustentável da resposta apresentada”, segundo anunciou a organização da FAZ-IOP. As duas fundações envolvidas – Gulbenkian e Talento – “estão empenhadas não só na melhor concretização do projecto escolhido como também na viabilização das restantes ideias finalistas, estabelecendo pontes com outras entidades que possam estar interessados nas propostas formuladas no âmbito da iniciativa”. O FAZ – Ideias de Origem Portuguesa representa um desafio à diáspora portuguesa para constituir equipas com outros portugueses (residentes em Portugal ou não) e apresentar novas propostas nas áreas do ambiente e sustentabilidade, inclusão social, diálogo intercultural e envelhecimento. Foram apresentadas 203 ideias, provenientes de 28 países dos cinco continentes. Trata-se, pois, de um movimento da sociedade civil que pretende “promover a responsabilidade individual e o exercício de uma cidadania activa, envolvente e participativa, através do apoio a novas práticas de empreendedorismo e de inovação social”. A primeira edição da iniciativa visou angariar, divulgar e seleccionar ideias e apoiar a concretização de projectos de empreendedorismo social, que contribuam para a transformação do fenómeno das migrações numa oportunidade efectiva para a sociedade portuguesa e para Portugal. Num primeiro momento, a diáspora Portuguesa foi convocada para contribuir com ideias e projectos, capturando o valor das suas experiências globais e identificando os actores sociais que estão dispostos a empreender para melhorar o nosso país. Concluída a primeira edição, e “face ao sucesso alcançado”, a iniciativa FAZ- IOP será bianual, permitindo um melhor acompanhamento, concretização e consolidação desta rede. Pretende-se ainda que os projectos não ganhadores possam vir a ter uma implementação no terreno, dando-os a conhecer a potenciais financiadores e investidores. De sublinhar, finalmente, que este ano a iniciativa foi dedicada a Diogo Vasconcelos, recentemente falecido. Além de ter sido consultor da Fundação Gulbenkian e membro do júri da iniciativa, Diogo Vasconcelos “representava o espírito de inovação e empreendedorismo que tanto contribuiu para um novo olhar sobre o mundo”, divulgou a organização do FAZ-IOP.
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Jornalista