Surge o conceito Work Life Integration, que reconhece, no mundo interligado de hoje, que as fronteiras entre trabalho e vida pessoal se estão a tornar cada vez mais ténues. Destaca uma comunhão entre o trabalho e a vida pessoal de modo que ambas as dimensões coexistam e prosperem juntas, em vez de se estabelecer uma fronteira entre elas
POR JOÃO FALCÃO

Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, onde a velocidade dos nossos dias é vertiginosa, em que as empresas e cada um de nós tem de se adaptar constantemente. Somos diariamente invadidos por notícias, testemunhos, posts e artigos muito polarizados, que nos dizem ser possível, de forma muito fácil, atingir a excelência profissional, ganharmos muito dinheiro, sermos pais exemplares, bons desportistas, mais saudáveis, mais ecológicos, mais espirituais, mais completos e mais e melhores em tudo.

Muitas vezes, arrastados por este tipo de comunicação que nos chega permanentemente através de várias fontes, damos por nós a trabalhar mais horas do que devíamos, a ler um livro que não queremos, a fazer um desporto de que nem sequer gostamos e a tentarmos encaixar todas as solicitações num dia que só tem 24h. Tudo isto nos traz enormes inquietações e nos dá a sensação de estarmos a falhar com algumas bolas no malabarismo das várias dimensões da nossa vida. Para tentar gerir tantas situações, sugerem-nos constantemente que tenhamos um Work Life Balance.

O que é isso afinal? Work Life Balance é um conceito que procura encontrar o equilíbrio entre o trabalho e as outras dimensões da vida de cada um de nós, como a família, os amigos, os hobbies e o desenvolvimento pessoal. Escrito assim, o conceito sugere-me que o trabalho é o fator dominante e que o objetivo é encontrar um equilíbrio entre o trabalho e todas as outras dimensões envolventes. Actualmente, este conceito é omnipresente e bastante vendável pelas empresas aos seus funcionários.

Proponho que troquemos a ordem das palavras: os termos Work Life Balance por Life Work Balance, que à primeira vista nos mostram apenas uma nova ordem de palavras, permitem-nos, na verdade, atribuir uma ênfase totalmente diferente aos componentes dos conceitos. Life Work Balance coloca o foco na vida como um todo, sendo o trabalho apenas uma das suas dimensões. Esta expressão sugere priorizar os diferentes aspectos da vida de forma a permitir uma existência equilibrada com o trabalho.

No entanto, este novo conceito ainda não parece fazer face à realidade exigida pelas novas gerações. Com a pandemia, assistimos ao aumento exponencial do trabalho híbrido e remoto e a uma avalanche de novas abordagens à forma de trabalhar. É neste contexto que surge o conceito de Work Life Integration, que reconhece, no mundo interligado de hoje, que as fronteiras entre trabalho e vida pessoal se estão a tornar cada vez mais ténues. Destaca uma comunhão entre o trabalho e a vida pessoal de modo que ambas as dimensões coexistam e prosperem juntas, em vez de se estabelecer uma fronteira entre elas.

A Work Life Integration providencia uma abordagem holística à gestão das nossas vidas. Vários estudos revelam que esta abordagem flexível pode resultar em maior satisfação, produtividade e engagement dos colaboradores nas empresas. O sucesso deste conceito está normalmente associado a:

  • Uma maior flexibilidade, que consequentemente faz com que as pessoas tenham mais controlo sobre sua agenda e horários, o que pode ser particularmente benéfico para acolher responsabilidades familiares, compromissos pessoais e atividades de lazer;
  • À diminuição do stress, que é provocado pelas barreiras físicas e o separatismo tradicional entre trabalho e vida pessoal. Este conceito permite a um grande número de indivíduos uma escolha e uma consequente melhoria da sua qualidade de vida;
  • À melhoria da gestão do tempo, gestão essa que determina a melhor forma de cumprir responsabilidades no trabalho e na vida pessoal, promovendo a integração, a autonomia e a responsabilidade individual.

De acordo com o relatório da Robert Walters intitulado «The Future of Work after COVID-19», 47% dos trabalhadores portugueses são mais produtivos em teletrabalho e 76% estão satisfeitos com a transição para empregos remotos, uma situação decorrente da pandemia. As empresas que apoiam a integração entre trabalho e vida pessoal são vistas como mais atraentes. Através deste conceito, cada pessoa pode alinhar a sua vida de acordo com os seus valores mais profundos, encaminhando-a para uma existência com mais significado, transcendendo as fronteiras tradicionais entre o trabalho e a vida pessoal. Ouso acrescentar a este conceito a dimensão espiritual que para mim traz estabilidade, tal como uma ligação química confere estabilidade aos átomos.

Trago sempre comigo uma frase de Nuno Tovar de Lemos s.j. in: Textos Para Rezar: «A estabilidade de uma construção deve-se, em grande parte, a algo escondido: os alicerces». É esta dimensão espiritual que liga e consequentemente integra a vida pessoal e a vida profissional: um fio condutor que me permite ser a mesma pessoa em ambiente empresarial e privado. Uma dimensão que me proporciona uma relação e uma vivência íntima e intimista com Jesus. Uma dimensão que me faz alicerçar no essencial, nos valores, na frontalidade e nos princípios e me leva a acreditar que cada um de nós, com as nossas qualidades e apesar dos nossos defeitos, pode fazer a diferença.

Trazer Jesus no meu dia-a-dia de gestão nem sempre é uma tarefa fácil. No entanto, no trabalho desenvolvido pela ACEGE, nos testemunhos dos seus líderes e nas diversas iniciativas que desenvolvem, encontro ferramentas de integração e oportunidades de crescimento contínuo. Concluindo, a abordagem Work Life Integration requer autoconsciência, adaptabilidade e uma compreensão clara dos próprios valores e prioridades, mas também uma responsabilidade acrescida de cada um de nós para com as empresas, onde a máxima liberdade deve ser acompanhada pela máxima responsabilidade. Tenhamos coragem!

Foto: Unsplash.com

João Falcão

36 anos, casado e pai do Francisco, da Pilar e da Luz. É Managing Partner na Novacasta, principal investidora da marca 100 Montaditos em Portugal, e Managing Partner na NC Pomo, Master Franchisado da marca Pomodoro em Portugal. Licenciou-se em Engenharia Florestal no Instituto Superior de Agronomia e pós-graduou-se em Energia e Bioenergia na Faculdade de Ciências e Tecnologia. Mais recentemente frequentou o PAGE (Programa Avançado de Gestão para Executivos) na Católica Lisbon Business & Economics.