Se Aladinos e lâmpadas mágicas existissem, as gerações Y e Z teriam muito que desejar. Num mundo de incerteza contínua, mas cientes do seu contributo para o mercado laboral e para a sociedade, estes jovens sabem bem o que querem e o que não querem. E porque as empresas já os têm ou virão a ter nas suas fileiras, é imprescindível que conheçam as suas expectativas, receios e desejos para o futuro. A Merck inquiriu jovens de 12 países europeus – Portugal incluído – sobre algumas das questões mais prementes para os que têm entre 19 e 36 anos
POR HELENA OLIVEIRA

Não existem dúvidas de que as novas gerações estão a redefinir os conceitos de trabalho, diversidade, cuidados de saúde e inovação, bem como a dar visibilidade a questões importantes como a sustentabilidade, a saúde emocional/mental ou o clima. A Merck questionou jovens pertencentes às geraçôes Millennial (26-36 anos e) e à Z (19-25), de 12 países europeus, Portugal incluído, e quis saber quais as suas expectativas para o futuro, a par das suas maiores preocupações e prioridades. Dividido em seis grandes temas, o inquérito realizado pelo gigante alemão da indústria química, farmacêutica e das ciências biológicas, convidou também os jovens entrevistados a darem a conhecer os seus maiores desejos. Vejamos os resultados.

Maior sensibilização para a saúde física e emocional

Como é sabido, a sensibilização para a saúde emocional/mental tem vindo a aumentar desde há vários anos. Antes da pandemia, estimava-se que mais de 84 milhões de pessoas na UE eram afectadas por doenças relacionadas com a saúde emocional – uma em cada seis – número esse que tem vindo a aumentar significativamente nos últimos três anos. E se o problema da saúde mental estava, aparentemente, mais associado a adultos e seniores, são agora os jovens que se dizem particularmente afectados por um conjunto de distúrbios emocionais preocupantes. De acordo com European Youth Forum, metade dos respondentes dos 12 países europeus auscultados manifestam ter uma saúde mental pobre, com a depressão entre os mesmos a mais do que a duplicar.

Os dados para os jovens portugueses entrevistados revelam que estes são os que maior importância conferem à saúde emocional (94%), sendo este um tópico de conversação “normal”, o que pelo menos é um resultado positivo para reduzir o estigma ainda existente no que respeita às perturbações do foro psicológico.

O estudo mostra ainda que os cuidados pessoais são uma ferramenta poderosa para cultivar o bem-estar emocional, com um terço dos jovens a afirmar fazer check-ups médicos regulares e oito em cada 10 a demonstrarem confiança nos profissionais de saúde quando necessitam de algum esclarecimento relativamente à sua saúde. Todavia, e no que respeita à regularidade dos check-ups, apenas 30,6% dos jovens portugueses afirmam fazê-los.

O sistema de saúde imaginado e desejos para o futuro

Não existem dúvidas que os avanços tecnológicos estão a revolucionar a prestação dos cuidados de saúde, permitindo diagnósticos mais rápidos e mais exactos, melhores opções de tratamento e melhores cuidados aos doentes.

A Europa possui alguns dos melhores sistemas de saúde do mundo e a sua abordagem está já centrada em proporcionar o melhor valor para os pacientes. Além disso, a sua investigação e desenvolvimento (I&D) está a crescer rapidamente em sectores como a tecnologia médica, os produtos farmacêuticos e a biotecnologia, mas também na comunicação digital e na tecnologia informática. No que respeita a Portugal, e não sendo esta a melhor altura para se falar sobre o sistema nacional de saúde, a esmagadora maioria dos jovens (90%) deseja um sistema de saúde futuro em que seja dada prioridade à investigação, e em que esta seja encarada como um investimento e não como uma despesa.

Habituados a viver num mundo global e em que a colaboração não é competição, mas antes uma força, os jovens de ambas as gerações imaginam – ou desejam – um futuro em que o progresso, a responsabilidade social e a procura colectiva do bem comum constituam os valores e prioridades por excelência, ao que se juntam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a inovação, as conquistas tecnológicas e a sustentabilidade enquanto pilares para um mundo mais igualitário e que abrace a diversidade.

No que respeita aos desejos para o futuro, os jovens gostariam que a cura para o cancro fosse possível, bem como soluções para a miríade de problemas relacionados com as alterações climáticas. Interessante é o facto de 65% dos jovens europeus afirmarem que gostariam de assistir a uma maior sensibilização do público no que respeita ao tema da infertilidade e, caso pudessem convencer os principais líderes mundiais a tomar medidas para melhorar o mundo, quatro em cada 10 dariam prioridade a mais financiamento para a investigação e inovação médicas e 30% optariam por campanhas de educação e prevenção no domínio dos cuidados de saúde.

Tecnologia e Inovação: o poder da IA e dos media sociais    

Nem tudo é cor-de-rosa nas redes sociais, que funcionam actualmente como uma segunda “casa” ou “identidade” para muitas pessoas. E tanto assim é que os jovens inquiridos reconhecem os seus benefícios e malefícios. Enquanto aspectos positivos, 73% dizem ter sentido mais inspiração para aprender novas competências/coisas e ganhar uma maior sensibilização para as questões sociais e ambientais (67%). Por outro lado, 61% elegem como aspectos negativos o risco de exposição à desinformação, uma redução da capacidade de atenção/concentração (20%), com 58% a confessarem sentir um aumento da ansiedade/stress, valor um pouco mais reduzido para os portugueses respondentes (54%).

Ainda a nível nacional, o inquérito demonstra que o défice de atenção é, para cerca de 60% dos portugueses, uma questão negativa. Todavia, e em linha com inúmeros outros estudos, 44,7% sentem receio que, ao estarem ausentes das redes, perderão “alguma coisa” e 79% dos inquiridos olha para as redes sociais como uma inspiração para aprender novas competências e experimentar coisas novas.

Por fim, quase metade da totalidade dos respondentes acredita que a IA é promissora e pode ser útil, ao mesmo tempo que reconhecem a necessidade de um maior desenvolvimento a ela associado. Embora reconheçam os potenciais benefícios da IA, também compreendem as suas limitações e considerações que envolvem a sua utilização.

Vida sustentável e hábitos ecológicos

Como já referido numa questão anterior, a sustentabilidade é cada vez mais importante para os jovens que estão empenhados no bem-estar da sociedade e nos impactos no ambiente que os rodeia. Assim, para além de exigirem um mundo mais igualitário, diversificado e inclusivo, apelam também a que as alterações climáticas sejam combatidas o mais rapidamente possível. A adopção da sustentabilidade permite-lhes ter um impacto positivo, alinhar as suas acções com os seus valores e garantir um mundo mais saudável e sustentável para si próprios e para as gerações futuras.

Igualmente positivo é o facto de 82% dos jovens portugueses estarem “muito” ou “bastante” preocupados com as questões ambientais (o segundo país mais preocupado) e 60% terem igualmente elegido as alterações climáticas como um dos principais problemas que tem de ser resolvido.

Nos 12 países auscultados, 70% dos jovens afirmam estar “muito” ou “bastante” preocupados com as questões ambientais e estão convictos de que uma vida sustentável é essencial para o seu bem-estar e o das próximas gerações.

Parentalidade e fertilidade

Como é do conhecimento geral, a Europa é um dos continentes em que a substituição de gerações é verdadeiramente complicada e em que o envelhecimento dos cidadãos é particularmente visível. A juntar a este facto, as mulheres estão a engravidar cada vez mais tarde, fruto do seu desejo de se concentrarem primeiro na carreira e na sua progressão profissional. Mas a verdade é que os jovens europeus querem ter filhos, apesar da incerteza que caracteriza o mundo e dos desafios e responsabilidades inerentes a cuidar de uma criança. Assim, 70% dos jovens afirmaram que considerariam a possibilidade de serem pais se estivessem a viver o presente que desejam.

Relativamente aos temas da fertilidade e da saúde reprodutiva, 42,5% dizem estar interessados na saúde sexual, 32,4% em diferentes tratamentos de reprodução assistida e 29,5% apontam as causas da infertilidade como tópico a ser abordado. Ou seja, 65% dos jovens europeus gostariam de ver, no futuro, uma maior sensibilização do público para a infertilidade e para os factores que a afectam. Por seu turno, metade dos jovens europeus masculinos gostaria de ver introduzida a inteligência artificial para melhorar os tratamentos de fertilidade em casa, em comparação com 35% das jovens europeias.

Por fim, são as mulheres europeias (cerca de metade) que maior importância dão à saúde emocional comparativamente aos homens (34%).

Reformular o ambiente profissional

De acordo com a consultora McKinsey e até 2030, os millennials representarão 75% da força de trabalho mundial, com a mesma fonte a prever que, até 2025, os jovens Z constituam mais de um quarto da força laboral global. Como sabemos e testemunhamos, ambas as gerações estão a mudar os padrões de permanência ou saída de uma empresa, privilegiando o propósito e a realização pessoal no seu trabalho, obrigando por isso as empresas a reavaliarem as suas práticas.

Como factores mais importantes para ficarem a trabalhar numa empresa, os jovens europeus entrevistados elegem o bom ambiente de trabalho (87%), um bom equilíbrio entre vida profissional e familiar (83%), confiança e apoio por parte das chefias (78%), bem como oportunidades de promoção (76%). De realçar que 70% dos inquiridos afirmam que mudariam de empresa se houvesse um mau ambiente de trabalho, o mesmo acontecendo com mais de metade dos jovens europeus caso não encontrassem equidade, diversidade e inclusão (53%).

Se fossem CEOs de uma empresa, 75% dos jovens europeus dariam prioridade a programas destinados a melhorar a saúde física e emocional dos trabalhadores – uma prioridade para 57% dos portugueses -, ao desenvolvimento sustentável e à protecção do ambiente, com 50% a apostar no investimento nainovação e na promoção de jovens talentos.

Para os gestores nacionais, uma mensagem importante: os trabalhadores jovens portugueses (66%) são os europeus que mais atribuem importância à falta de uma via clara de promoção/crescimento dentro de uma empresa como factor de saída para uma outra.

Fonte: Emotional Health Merck Survey: What Moves Young Europeans?

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