É curioso que num mundo dominado pela tecnologia, onde todos os dias se debatem as ameaças da inteligência artificial, a grande preocupação de muitos gestores em 2024 tenha a ver com.… pessoas. Com talento humano
POR SOLEDADE CARVALHO DUARTE

“Existe algo muito mais escasso, mais fino e raro do que o talento; é o talento para reconhecer os talentosos.”

O último relatório do Boston Consulting Group (BCG) revelou que quase 60% dos executivos C-level ouvidos pela multinacional de consultoria admitiram que o seu grande desafio para 2024 será encontrar, contratar e melhorar as competências dos seus quadros.

Seguem-se fatores como a disrupção digital, ataques informáticos, custos energéticos e capital.

Todos sabemos que a pandemia veio obrigar a uma transformação supersónica dos processos de trabalho, algo que muitas organizações imaginaram possível num quadro temporal de anos, não de meses.

A quebra de uma relação profissional clássica, com regras bem definidas e uma geografia delimitada, deu lugar a uma liberdade de ação e a um desprendimento mental que parecem dificultar a captação e retenção de talentos.

Se juntarmos a isto uma pressão tecnológica permanente, que obriga os quadros a assimilarem e a dominarem novas competências quase de forma diária, chegamos ao dilema que tanto preocupa os gestores: como podem as empresas reter os seus melhores?

Os especialistas falam de necessidade de um claro investimento em formação, nomeadamente em upskilling, processo de aperfeiçoamento ou atualização de competências que podem ser aproveitadas em novas áreas.

Tal investimento é, simultaneamente, um mecanismo de prevenção de riscos, já que a substituição de um trabalhador qualificado e que domina o negócio tem um custo bastante mais elevado do que a requalificação desse quadro seguro.

Importa recordar que a capacidade de encontrar, melhorar e reter talentos é uma das grandes mais-valias de um líder, mais ainda em tempos de imprevisto.

Há uma frase interessante do homem que tornou famosa a expressão “Carta a Garcia”, e que serve de título a um pequeno escrito que homenageia todos os que não olham a meios para cumprir uma missão. O texto, escrito durante a Guerra Hispano-americana (1898-1902), quando os Estados Unidos apoiaram Cuba contra os espanhóis, relata a história do mensageiro escolhido pelo presidente norte-americano para entregar ao líder dos rebeldes cubanos, Garcia, uma mensagem determinante para pôr termo à guerra.

A perseverança e sucesso deste mensageiro, que venceu todos os obstáculos, tornou-se emblemática no mundo empresarial. Foi ele que disse: “existe algo muito mais escasso, mais fino e raro do que o talento; é o talento para reconhecer os talentosos.”

Uma ideia a reter em tempo de grandes desafios.

Nota: Artigo originalmente publicado no Observador. Republicado com permissão.

Soledade Carvalho Duarte

Managing Director da Invesco Transearch Portugal

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