A C&A conta com mais de 60 mil colaboradores em todo o mundo, dos quais cerca de 80% são mulheres. Reforçando a igualdade de género, tanto dentro da organização como em toda a cadeia de fornecimento, como princípio fundamental da sua cultura empresarial, a marca de moda internacional aderiu recentemente aos Women’s Empowerment Principles das Nações Unidas. Em entrevista, a Head of Human Resources da C&A Iberia, Celina Bello Blanco, explica porque as mulheres são o motor da marca e também de toda a indústria têxtil
POR GABRIELA COSTA

Celebrando “as conquistas de todas as mulheres”, a marca de moda internacional C&A aderiu, a 8 de Março, aos Women’s Empowerment Principles (WEP) da ONU, reforçando assim a importância da igualdade de género como princípio fundamental da cultura da empresa.

A adesão ao conjunto de princípios promovidos pela Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Género e Empoderamento das Mulheres (UN Woman) e o Pacto Global das Nações Unidas, com o objectivo de servir de guia para que as empresas dêem poder às mulheres no trabalho, no mercado e na comunidade, foi comunicada no âmbito do Dia Internacional da Mulher.

Actualmente, cerca de 80% do total dos colaboradores da C&A, a nível mundial, são mulheres, e também cerca de 80% dos trabalhadores da sua cadeia de distribuição e dos seus clientes são do género feminino. A empresa conta com mais de 60 mil colaboradores em todo o mundo e os seus produtos são fabricados em mais de 2400 fábricas fornecedoras, localizadas em cerca de 40 países. O conjunto destas fábricas totaliza mais de um milhão de funcionários, na sua grande maioria, mulheres.

Tipicamente, a indústria têxtil e da moda tem uma percentagem de emprego feminino bastante elevada. Segundo dados divulgados pela C&A, na indústria do cultivo do algodão, por exemplo, as mulheres desempenham um papel de extrema importância em todo o processo de fabrico, constituindo grande percentagem da força de trabalho nos campos e nas fábricas. Mas apesar disso, na maioria das vezes, são relegadas para funções pouco qualificadas, baseadas em estereótipos associados ao género. Para além disso, têm probabilidades muito mais baixas de receber uma promoção do que os homens e recebem pagamentos, em média, mais baixos do que o género masculino, para o mesmo trabalho.

Consciente de que “muitas mulheres em todo o mundo enfrentam discriminação e barreiras estruturais, que impedem o seu sucesso”, a C&A trabalha em conjunto com a sua fundação corporativa, a C&A Foundation, para enfrentar estas questões, com a finalidade de “criar comunidades fortes e resilientes e apoiar as muitas mulheres na cadeia de fornecimento responsáveis por desenvolver os nossos produtos”, como sublinha Kate Heiny, Responsável Global de Sustentabilidade da C&A.

Algodão sustentável da C&A – © C&A

Fundação C&A dá voz às mulheres

Desde 2012, a empresa articula a sua acção social através da sua fundação, que trabalha para alcançar a igualdade de género no sector da moda. Tanto a C&A como a Fundação C&A “crêem firmemente que, para transformar radicalmente a moda numa força positiva devem abordar-se, de forma directa e decidida, problemáticas como a desigualdade de género e a violência contra as mulheres”. Em linha com estes princípios, em cada um dos seus programas filantrópicos, a Fundação C&A trabalha com parceiros para promover “a voz das mulheres, a sua capacidade de liderança e o exercício dos seus direitos, ao mesmo tempo que as ajuda a influenciar a tomada de decisões referentes à cadeia de fornecimento”, lê-se em comunicado.

[quote_center]Para transformar radicalmente a moda numa força positiva devem abordar-se de forma directa problemáticas como a desigualdade de género e a violência contra as mulheres[/quote_center]

Com a missão de apoiar programas e iniciativas que contribuem para transformar a moda numa indústria justa e sustentável que permita a todos (do agricultor ao operador fabril) prosperar, a fundação quer “transformar a moda numa força para o bem”, a partir da convicção de que a indústria têxtil tem o poder e a capacidade de melhorar a vida de milhões de pessoas que confeccionam roupas, em todo o mundo — desde “a agricultora que transforma a sua vida e a da sua família graças ao algodão orgânico”, à “jovem cuja vida dá uma volta de 180º ao receber apoio para sair do trabalho forçado e voltar a estudar”.

Centrando o seu trabalho em cinco áreas principais – Acelerar o algodão sustentável, melhorar as condições de trabalho, erradicar o trabalho forçado e o trabalho infantil, promover a economia circular e fortalecer as comunidades (ver Caixa) -, a C&A Foundation pretende liderar e acelerar a mudança para criar uma indústria com práticas sociais e ambientais que permitam às comunidades e às pessoas prosperar.

Para tanto, proporciona às marcas, às ONG, aos governos e a outros promotores de mudança apoio financeiro, competências e acesso a uma rede de especialistas.  Estas ferramentas ajudam a interligar as pessoas para impulsionar a transformação da indústria.

Paralelamente, e como parte do seu compromisso, em 2015 a C&A tornou-se signatária do Pacto Global das Nações Unidas, a maior iniciativa mundial relacionada com sustentabilidade corporativa. Através deste Pacto, a empresa comprometeu-se a cumprir os dez princípios universalmente aceites, centrados nos direitos humanos, no trabalho, no meio ambiente e na luta contra a corrupção, assim como a tomar medidas que promovam objectivos sociais.

[quote_center]A Fundação C&A visa garantir condições de trabalho seguras e justas, erradicar o trabalho forçado e garantir a transparência ao longo de toda a cadeia de fornecimento da indústria têxtil[/quote_center]

Um desses objectivos é o da igualdade de género e, como comenta o director Geral da C&A Ibéria, Domingos Esteves, face à área de actuação da empresa e ao peso que as mulheres ocupam em toda a sua cadeia, reveste-se de especial importância, significando uma prioridade ao nível das boas práticas da C&A: “as mulheres são o grande motor por trás da indústria da moda e também da nossa marca. Os Princípios WEP vão servir-nos de guia para continuar a implementar a igualdade de género na nossa organização e em toda a cadeia de fornecimento”.

Para dar a conhecer este exemplo de ética empresarial, o VER entrevistou, nesta edição especial, a Head of Human Resources da C&A Iberia. Segundo Celina Bello Blanco, o contributo da empresa para o desenvolvimento da moda circular e de uma moda mais justa depende não apenas de que os produtos e processos de fabrico da C&A “sejam mais responsáveis e sustentáveis”, mas também da existência de “princípios de sustentabilidade e de justiça em toda a nossa cadeia de fornecimento e distribuição, e condições de trabalho justas e seguras, que promovam a igualdade e o fortalecimento das comunidades”.

O que motivou a adesão da C&A aos Empowerment Principles WEP, e que compromissos assumem ao subscrevê-los?

Celina Bello Blanco, Head of Human Resources C&A Iberia

Actualmente, a C&A conta com mais de 60 mil colaboradores em todo o mundo, dos quais cerca de 80% são mulheres. Por isso, e tendo em conta esta realidade, sempre tivemos, enquanto empresa, uma preocupação com os assuntos ligados à igualdade de género, assim como com o bem-estar, crescimento profissional e valorização de todos os nossos colaboradores.Desta forma, considerámos que faria todo o sentido aderir aos Women’s Empowerment Principlesda ONU e, com isso, reforçar ainda mais a nossa posição em relação à igualdade de género a nível global.

Sendo as mulheres “o grande motor por trás da indústria da moda”, em que medida é a igualdade de género um princípio fundamental da cultura empresarial da C&A?

Na C&A, trabalhamos continuamente para definir e dar seguimento a planos de igualdade de género. É um princípio que está inerente ao nosso trabalho na empresa e também na nossa fundação corporativa.

Para contribuirmos, enquanto empresa, para o desenvolvimento da moda circular e de uma moda mais justa para todos, não é apenas importante que os nossos produtos e processos de fabrico sejam mais responsáveis e sustentáveis, mas também que existam princípios de sustentabilidade e de justiça em toda a nossa cadeia de fornecimento e distribuição, e condições de trabalho justas e seguras, que promovam a igualdade e o fortalecimento das comunidades e de todos os envolvidos no processo de fabrico e de distribuição dos nossos produtos. E é precisamente a estes níveis que actuamos, enquanto empresa, com o objectivo de promover a igualdade de género e condições laborais justas para todos.

Que medidas adopta já a C&A para implementar a igualdade de género dentro da organização e em toda a sua cadeia de fornecimento?

Com a adesão aos Women’s Empowerment Principles, da ONU, subscrevemos e comprometemo-nos a cumprir um conjunto de princípios para garantir a igualdade de género, tanto dentro da organização, como em toda a nossa cadeia de fornecimento. São eles:

  1. Estabelecer uma liderança corporativa de alto nível pela igualdade de género.
  2. Tratar todas as mulheres e todos os homens de forma justa no trabalho, respeitando e fomentando os direitos humanos e a não discriminação.
  3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todos os trabalhadores e trabalhadoras.
  4. Promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional de todos os nossos colaboradores.
  5. Implementar práticas de desenvolvimento empresarial.
  6. Promover a igualdade através de iniciativas e de compromisso.
  7. Avaliar e difundir publicamente os progressos em matéria de igualdade de género.

Paralelamente, que trabalho tem a C&A Foundation desenvolvido para alcançar a igualdade de género na moda? Em que outras áreas de actuação a Fundação tem programas filantrópicos para promover a “voz” das mulheres, a sua capacidade de liderança e de tomada de decisões e o exercício dos seus direitos?

A Fundação C&A, juntamente com vários parceiros, desenvolve iniciativas com o objectivo de garantir condições de trabalho seguras e justas, erradicar o trabalho forçado e garantir a transparência ao longo de toda a cadeia de fornecimento da indústria têxtil.

Paralelamente, tanto na C&A como na Fundação C&A, desenvolvemos vários projectos para promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres. Um exemplo recente deste trabalho é a campanha Inspiring Women, que foi desenvolvida com o objectivo de mostrar que as mulheres são o motor da nossa marca e também de toda a indústria têxtil. Para dar destaque a este tema, perguntámos aos nossos colaboradores quais são as mulheres que mais os inspiram, e pedimos que partilhassem as suas histórias inspiradoras no nosso site e, ao mesmo tempo, votassem em organizações locais que lutam pelo empoderamento das mulheres e pelo seu acesso à educação e a programas contra a violência de género. Os nossos colaboradores aderiram em massa, já que esta campanha contou com mais de 23 mil participações que, em conjunto, permitiram que a Fundação C&A transformasse estas histórias de mulheres inspiradoras em mais de um milhão de euros, que foram doados a um total de 53 ONG.


Programa de economia circular da C&A – © C&A

Moda justa e circular

A C&A Foundation está a trabalhar para aumentar a quota de mercado do algodão sustentável, enfrentando as condicionantes que obstam ao seu desenvolvimento, e ajudando os agricultores de algodão a fazer a transição para a agricultura biológica. Estes, por seu turno, estão a trabalhar com as marcas e os operadores do sector para acelerar a utilização de algodão mais sustentável.

Defendendo que as forças por trás das condições de trabalho inseguras e injustas são sistémicas e profundas, a fundação está também a trabalhar com diferentes intervenientes para criar condições de trabalho seguras e justas, que actuam para ajudar os operadores têxteis a dar voz às suas preocupações e apoiam as suas iniciativas para tornar toda a indústria responsável.

A falta de transparência e rastreabilidade nas cadeias de abastecimento complexas do mundo da moda faz com que o trabalho forçado seja invisível e permaneça impune. Determinada a mudar esta realidade, a C&A Foundation está a trabalhar com parceiros em toda a indústria para enfrentar as causas que estão na raiz do trabalho forçado e do trabalho infantil, e apoiar as vítimas, dando-lhes a ajuda de que necessitam para recuperar e reconstruir as suas vidas.

Paralelamente, e consciente de que chegou o momento de repensar o vestuário e avançar para um novo tipo de indústria que utilize e reutilize materiais seguros, restaure e regenere os ecossistemas e ofereça trabalho digno a pessoas que fazem produtos “feitos para serem refeitos”, a fundação tem impulsionado a transição para a moda circular, estimulando e dimensionando soluções inovadoras capazes de mudar a forma como o vestuário é fabricado, utilizado e reutilizado.

Finalmente, e juntamente com a C&A, a C&A Foundation tem também implementado programas de voluntariado entre as comunidades envolventes dos seus colaboradores, clientes e operadores têxteis, que apoiam as instituições de solidariedade locais e promovem campanhas de envolvimento dos funcionários para a capacitação das mulheres. Para além disso, aliou-se a organizações humanitárias, como a Save the Children, para apoiar as mulheres e crianças em situações de emergência.