Num estudo inovador, o economista de Stanford Nick Bloom analisa o potencial transformador dos modelos de trabalho híbridos, revelando um futuro em que a flexibilidade, a produtividade e a satisfação dos colaboradores convergem. À medida que as empresas navegam no cenário pós-pandemia, a investigação de Bloom fornece um roteiro abrangente para a integração do trabalho remoto e do trabalho no escritório, destacando o delicado equilíbrio necessário para optimizar o desempenho individual e a inovação colaborativa. As suas conclusões não só sublinham os benefícios profundos do trabalho híbrido, como também lançam luz sobre as abordagens estratégicas necessárias para ultrapassar os desafios inerentes, preparando o terreno para uma nova era de dinâmica no trabalho
POR HELENA OLIVEIRA

Como todos testemunhámos, o panorama do trabalho sofreu uma mudança revolucionária, particularmente na sequência da pandemia da COVID-19. E para um grupo de trabalhadores, principalmente os mais qualificados e com salários mais elevados, que trabalham em sectores como a informática, o marketing, a contabilidade e as finanças, entre outros, tal significou uma revolução quase da noite para o dia no que respeita às práticas de trabalho. O trabalho a partir de casa, anteriormente considerado como uma raridade ou um benefício para poucos, tornou-se a norma para milhões de pessoas.

Todavia e actualmente, muitos empregadores querem fazer retroceder a revolução do trabalho remoto (v. Empregadores têm aversão crescente ao trabalho remoto), receando que este prejudique a produtividade, a criatividade e a colaboração. Em muitos casos, as empresas estão a obrigar os empregados a regressar ao trabalho totalmente presencial, na maioria das vezes com protestos indignados dos seus empregados.

Mas à medida que as organizações se debatem com as melhores formas de estruturar os seus ambientes de trabalho, os modelos de trabalho híbrido têm surgido como uma solução proeminente, mesmo que nem todas as organizações se sintam à vontade para o implementar. Um estudo recente liderado por Nick Bloom, um economista de renome da Universidade de Stanford e que há muito – bem antes da pandemia – estuda o trabalho remoto, e publicado em Junho último na Nature, lança luz sobre a eficácia do trabalho híbrido.

Como também sabemos, o trabalho híbrido generalizou-se em muitas partes do mundo desde a pandemia. Entre Abril e Maio de 2023, a terceira edição do Global Survey of Working Arrangements, uma colaboração internacional de investigação académica com sede nos Estados Unidos, questionou mais de 42 000 pessoas em 34 países sobre o local onde trabalhavam. Os resultados revelaram que embora 67% das pessoas trabalhem presencialmente no escritório, mais de 25% têm actualmente regimes de trabalho híbridos e outros 8% trabalham totalmente a partir de casa. As taxas de trabalho remoto são mais elevadas para os licenciados e são particularmente elevadas no mundo anglófono. O padrão mais comum de trabalho híbrido é de três dias por semana no escritório e dois dias em casa.

O estudo liderado por Nick Bloom e feito em parceria com Ruobing Han, da Universidade Chinesa de Hong Kong e James Liang, presidente e cofundador da empresa em cujo o estudo incidiu, é o primeiro ensaio aleatório controlado sobre os benefícios deste tipo de modelo híbrido. Foi realizado durante seis meses com 1612 funcionários da Trip.com, uma empresa de tecnologia sediada na China. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente por dois grupos: um que trabalhava a partir de casa dois dias por semana e o outro que trabalhava no escritório a tempo inteiro. Depois de finalizado o estudo, os investigadores continuaram a recolher dados durante mais 24 meses para avaliar o impacto a longo prazo do estudo em causa.

Este artigo analisa as principais conclusões do estudo, oferecendo informações valiosas tanto para os trabalhadores como para os empregadores.

A produtividade não é afectada

Uma das revelações mais significativas do estudo de Bloom e que é, em simultâneo, uma das maiores preocupações dos empregadores, é o facto de o trabalho híbrido não ter um impacto negativo na produtividade. As métricas de desempenho, incluindo avaliações de desempenho, promoções, linhas de código escritas e produtos enviados, não mostraram diferenças substanciais entre os trabalhadores híbridos e os que trabalharam inteiramente no escritório. Este resultado desafia o cepticismo em torno do impacto do trabalho remoto na produtividade e sugere que uma abordagem equilibrada pode manter, se não mesmo melhorar, o rendimento do trabalho.

Redução significativa das taxas de rotatividade

O trabalho híbrido conduziu a uma notável redução de 35% nas taxas de rotatividade dos trabalhadores. Esta redução foi especialmente acentuada entre os trabalhadores com deslocações mais longas e os não gestores. Além disso, as mulheres registaram uma redução de 54% nas taxas de abandono do local de trabalho e o desempenho e a satisfação dos trabalhadores foram iguais ou superiores aos do horário de trabalho tradicional anterior à Covid. Este facto realça o potencial do trabalho híbrido para melhorar a retenção dos trabalhadores, um factor crítico para as organizações que pretendem reduzir os custos de rotatividade e manter uma força de trabalho estável.

Satisfação acrescida dos trabalhadores

Os trabalhadores relataram níveis mais elevados de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, satisfação no trabalho e satisfação global com a vida no modelo híbrido, em comparação com o trabalho a tempo inteiro no escritório. Este aumento da satisfação é crucial para promover um ambiente de trabalho positivo e garantir o empenho e a produtividade dos trabalhadores a longo prazo.

Poupança de custos para as entidades patronais

A redução das taxas de rotatividade traduz-se em poupanças de custos significativas para os empregadores. A Trip.com estimou uma poupança de aproximadamente 20.000 dólares por empregado devido à redução dos custos de rotação associados ao recrutamento e formação de novos funcionários. Para as grandes organizações, estas poupanças podem acumular-se em milhões de dólares, sublinhando os benefícios financeiros da adopção de modelos de trabalho híbridos.

Equidade e inclusão

O trabalho híbrido pode promover a inclusão ao acomodar as diversas necessidades e circunstâncias dos colaboradores. No entanto, também requer uma gestão cuidadosa para garantir que todos os colaboradores tenham igual acesso a oportunidades de progressão na carreira, independentemente do seu local de trabalho.

Gestão e implementação

O trabalho híbrido eficaz requer uma infraestrutura digital sólida e políticas de comunicação claras. Os gestores têm de receber formação para lidar com equipas remotas e promover uma cultura de confiança e responsabilidade.

Adicionalmente, não se trata apenas de empregadores e empregados. Há um contexto social mais vasto e pouco estudado que também deve ser considerado – por exemplo, as implicações para a sustentabilidade da manutenção de edifícios de escritórios menos povoados face a um menor número de deslocações e o impacto na economia em geral e nos meios de subsistência de outras pessoas, muitas vezes com salários mais baixos, no sector dos serviços, se menos pessoas se deslocarem para os centros das cidades para trabalhar.

Por seu turno, o estudo de Bloom fornece provas sólidas que apoiam o modelo de trabalho híbrido como uma abordagem viável e benéfica para as organizações modernas. Seguem-se algumas implicações para o futuro do trabalho:

Formulação de políticas: As organizações devem considerar a formalização de políticas de trabalho híbrido para proporcionar flexibilidade aos funcionários, mantendo a produtividade.

Bem-estar dos empregados: As empresas podem utilizar modelos de trabalho híbrido para aumentar a satisfação e o bem-estar dos funcionários, o que pode levar a uma maior lealdade e a uma menor rotatividade.

Gestão de custos: Ao reduzir as taxas de rotatividade, as organizações podem conseguir poupanças de custos significativas, que podem ser reinvestidas noutras áreas do negócio.

Os resultados do estudo de Nick Bloom oferecem um argumento convincente para a adopção de modelos de trabalho híbridos. Ao equilibrar o trabalho no escritório e o trabalho à distância, as organizações podem manter a produtividade, reduzir a rotatividade dos funcionários, aumentar a satisfação no trabalho e conseguir reduzir os seus custos. À medida que o mundo do trabalho continua a evoluir, o trabalho híbrido parece ser um caminho promissor para um futuro mais flexível e sustentável.

Todavia, subsistem ainda muitas questões. Os resultados podem ser diferentes noutros países e culturas, por exemplo, e não é claro se os resultados podem ser obtidos em locais de trabalho que exijam diferentes níveis de colaboração e criatividade, temas que continuam em debate.

Quanto aos seus potenciais desafios, os autores citam a manutenção da cultura empresarial, a garantia da segurança dos dados e a gestão do cansaço do trabalho remoto. As empresas devem abordar estas questões de forma proactiva para tornar o trabalho híbrido sustentável.

A investigação de Bloom sublinha a importância da flexibilidade, do planeamento e da adaptação contínua nos modelos de trabalho híbrido. As suas conclusões sugerem que, embora o trabalho híbrido ofereça vantagens significativas, é necessária uma implementação cuidadosa para abordar as suas potenciais desvantagens e garantir o sucesso a longo prazo.

Sobre Nick Bloom

Nick Bloom é um economista de Stanford que estuda o trabalho remoto há mais de duas décadas. É cofundador da www.wfhresearch.com, uma plataforma que fornece informações e melhores práticas sobre o trabalho a partir de casa. Bloom tem vindo a contribuir significativamente para o discurso político e público sobre o trabalho remoto, sendo também consultor de CEOs e gestores, ajudando-os a enfrentar os desafios e oportunidades do trabalho remoto. Tem sido amplamente apresentado nos meios de comunicação social internacionais, partilhando os seus conhecimentos e conclusões. A sua missão é promover a compreensão e a adopção do trabalho à distância e capacitar os trabalhadores e as organizações para prosperarem no novo mundo do trabalho.

Imagem:© Hybrid work model

Editora Executiva